Cresce a disputa por serviços aos clientes sem-banco

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Recarga móvel para bilhete único de transporte, criação de modelos de negócio com pacotes pré-pagos para pequenos comerciantes e autônomos aceitarem cartões, conta salário no celular. Cada vez mais empresas de setores tão diferentes como Vivo, SP Trans e Caixa Econômica Federal incluem cartões pré-pagos e pagamentos móveis em suas estratégias de negócio para atingir o público de renda mais baixa e desbancarizado. São 55 milhões de brasileiros adultos (dos quais 89% estão na classe C) excluídos do sistema financeiro convencional. Indivíduos da classe C ganham em torno de R$ 1 mil mensais. 

“No Brasil, não dá mais para ser líder em nada sem ser líder na classe C”, diz Renato Meirelles, sócio e diretor da empresa de pesquisas Data Popular. Segundo ele, além do endividamento alto, informalidade da economia, falta de acesso e de educação financeira, 70% das pessoas da classe C declaram que se sentem mal tratadas e pouco à vontade ao se relacionar com bancos. 

“Desbancarizado não gosta de banco”, admite Fabio Lenza, vice-presidente de negócios emergentes da Caixa. Para ele, o melhor instrumento para atrair quem está fora do sistema é o pré-pago. “É mais ‘leve’, tira o banco do caminho”, diz. “Apenas 2,5 milhões dos 12,5 milhões de beneficiários do Bolsa Família pediram cartão de débito da Caixa. Os outros só usam o cartão do programa para sacar dinheiro. E dos 10,4 milhões de contas simplificadas ativas, só 16% usa o cartão na função débito — o restante também usa apenas para sacar recursos”, informa Lenza. O executivo lembra que o banco tem seu próprio programa de bancarização e que foi por sugestão da Caixa que o Banco Central (BC) aprovou a criação das contas simplificadas — corrente e de poupança. 

Lenza também defende a simplificação de modelos de negócios para os autônomos e pequenos comerciantes do interior, nordeste e periferia das grandes cidades — onde os desbancarizados gastam seu dinheiro. “Estamos tentando convencer empresas credenciadoras, como Cielo e Rede, a oferecer pacotes pré-pagos para que esses clientes possam alugar as maquininhas e passar a receber cartões”, diz. 

Maurício Romão, diretor de produtos digitais da Vivo, também acredita que os produtos financeiros pré-pagos são os que melhora atende os clientes não-bancarizados. “No mundo das telecomunicações isso já está consolidado, eles já se acostumaram a fazer recargas e não poder usar quando o saldo acaba”, lembra. A empresa tem uma empresa de mobile payment, a Zuum, que emite cartões pré-pagos com bandeira MasterCard. “Aproveitamos essa cultura do celular pré-pago e com nossos canais de distribuição, conseguimos chegar aos clientes de forma rápida e simples”, diz.

A Vivo entrou no mundo financeiro há cinco anos distribuindo produtos de seguro, desvinculados do celular. Logo depois passou a emitir cartões co-branded, com sua marca e a dos bancos Santander e Itaú. A Zuum está em quatro capitais e no final do ano que vem vai estar em todas, afirma. As recargas dos cartões são feitas na rede de 600 mil pontos que fazem a recarga dos celulares. “Estamos agora estudando a possibilidade de abrir conta salário simples para receber salário na Zuum”, antecipa. Segundo Romão, seria especialmente útil para as categorias de trabalhadores em setores de alta rotatividade, como os atendentes de call centers. 

Os vauchers para pagamento de passagens em meios de transporte, cujos clientes são majoritariamente das classes C e abaixo, estão entre os casos de sucesso do uso de pré-pagos. O bilhete único de São Paulo, emitido pela SPTrans e usado em ônibus, metrô e trens na cidade devem substituir completamente o dinheiro até o final do ano que vem. A informação é de Adauto Farias, diretor de gestão econômica e financeira da empresa. Hoje, os bilhetes único já responde por 93% dos pagamentos. 

Farias antecipa, também, que está estudando formas de recarregar o bilhete único por celular. “Precisamos dar um jeito de que os passageiros da periferia que tomam condução tarde da noite não fiquem na mão com o bilhete descarregado, sem ter onde recarregar”, diz. O bilhete único reduziu de 11,5 mil para 610 a quantidade de assaltos registrados em dez anos (de 2003 a 2013). Além disso, segundo Farias a velocidade dos ônibus melhorou pois leva muito menos tempo para embarque dos passageiros que pagam com bilhete do que com dinheiro — que muitas vezes precisam de troco. 

A primeira rede de recarga do bilhete único foram as lotéricas — mas como o valor das recargas é baixo, a SP Trans tinha que pagar um valor percentual da carga muito alto. Hoje o valor caiu mas o futuro é renegociar o modelo de negócios e não cobrar mais por transação mas por volume total mensal, indica Farias.

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