O governo do Mato Grosso do Sul e o Development Bank Corporation assinaram um termo de cooperação que visa atrair investimentos chineses para a infraestrutura do estado. Inicialmente, o banco chinês de fomento vai financiar a construção de uma fábrica esmagadora de milho no município de Maracaju — localizado a 160 km de Campo Grande — desenvolvida pelo BBCA Group, uma empresa de capital chinês.
“Estamos estabelecendo metas e definindo objetivos em comum. Temos um elenco de obras previsto num documento chamado Mato Grosso do Sul Competitivo e vamos apresentá-lo no mês de março em uma reunião na sede do banco no Rio de Janeiro. Temos uma grande demanda por projetos na área logística como um porto seco, rodovias e ferrovias. O banco está disposto a financiar esses projetos, desde que as empresas chinesas sejam as investidoras”, diz Jaime Verrucki, secretário Meio Ambiente e Desenvolvimento Econômico sul-mato-grossense. A nova fábrica do BBCA Group está orçada em R$ 2,5 bilhões e gerará 500 empregos diretos quando entrar em operação.
Segundo Charles Tang, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil China, depois de um período de expectativa, este ano os chineses devem alavancar investimentos na infraestrutura brasileira. De acordo com ele, a crise de mercado detonada pela Operação Lava Jato, que vem engessando uma série de obras, abriu várias oportunidades para a entrada das empresas chinesas no país. “As companhias chinesas querem contribuir com as empresas brasileiras e com o próprio governo, dando continuidade aos projetos que hoje estão paralisados, evitando um prejuízo maior para a economia brasileira”, afirma.
Tang diz que o apetite chinês por investimentos é grande e em todas as áreas da infraestrutura no Brasil: portos, aeroportos, energia, petróleo e gás, rodovias e ferrovias. “Os chineses têm US$ 4,4 trilhões em reservas cambiais, ou seja, são dois Brasis depositados nos bancos”, brinca. O executivo explica que as empresas só não avançaram ainda na infraestrutura brasileira porque havia certo protecionismo no mercado. “As empreiteiras do país formavam uma espécie de clubinho fechado que inibia a entrada de novos sócios. Mas agora creio que essa resistência será vencida por causa da dificuldade enfrentada pelas empresas nacionais”, afirma.
Ele cita que várias companhias brasileiras vêm acenando com a possibilidade de vendas de alguns ativos como a Mendes Júnior, que pode abrir mão de sua participação no projeto do Rodoanel, de São Paulo. “E o mesmo deve acontecer com os consórcios que venceram os leilões da linha 4 do metrô do Rio de Janeiro (encabeçado pela Queiroz Galvão e Odebrecht) e da linha 4-Amarela do metrô, de São Paulo (do consórcio Isolux-Corsán-Corviam). Há um vivo interesse das empresas chinesas em assumir todos esses projetos. Se as negociações avançarem, é possível que os investimentos chineses em infraestrutura no Brasil cheguem aos R$ 20 bilhões ainda este ano”, calcula, mencionando que, atualmente, os chineses já assumiram R$ 1 bilhão em investimentos no país a partir de subcontratações.
Em consonância, Daniel Lau, diretor de Prática Chinesa da KPMG no Brasil conta que diversas comitivas empresariais chinesas têm visitado o país para identificar oportunidades de negócios. “A presença chinesa não avançou mais no mercado por várias razões, entre elas, a cultural. Os chineses planejam muito e planejam bem”, diz, lembrando que as empresas chinesas já atravessaram três ondas de investimentos estrangeiros no mundo. “A primeira delas começou nos anos 80, na própria Ásia, em países como a Coreia do Sul, Vietnã, Malásia, Filipinas, Indonésia e Japão. O segundo foco de expansão dos negócios foram a Europa e os Estados Unidos no final dos anos 90 e a terceira foi a África, a partir de 2008. Isso sem deixar de lado nenhum dos mercados conquistados”.
O executivo reforça que o direcionamento de foco para o Brasil e América do Sul ocorreu nos últimos cinco anos e que desde então os chineses vêm estudando o mercado brasileiro. “São empresas estatais e privadas com muita expertise e liquidez. A maior prova de que os chineses têm vivo interesse em apostar no Brasil é o fato de os quatro bancos mais importantes do país terem se instalado no país — feito raro em outros países”, frisa, citando as instituições financeiras estatais ICBC, CCB, Bank os China e China Development Bank.
“ O que inibiu até agora a entrada das empresas no mercado de infraestrutura brasileiro é a soma de tudo aquilo que inibe o investimento privado de uma forma geral: alta carga tributária, a alta complexidade do sistema tributário brasileiro e os indicadores macroeconômicos”, acrescenta Claudio Frischtak, fundador da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios.
O consultor reforça que a taxa de poupança chinesa é quatro vezes maior que a do Brasil e a capacidade de investimento dos chineses é grande. “Na minha opinião, quando a poeira da operação Lava Jato baixar e surgir a disponibilidade de contratos, os chineses vão analisar as possibilidades e investir. Eles são, sim, potenciais candidatos para assumir alguns investimentos, seja fazendo a aquisição de alguns ativos, seja assumindo alguns contratos”, analisa.
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