“Esqueça a inteligência”, recomenda Farhad Mohit, fundador e presidente do Flipagram, rede social que em pouco mais de um ano e meio superou a marca de cem milhões de usuários em 85 países. “A persistência é a característica mais importante para um empreendedor de sucesso, a capacidade de passar por cima de fracasso após fracasso”. Longe de flertar com a auto ajuda, a recomendação desse empreendedor nascido no Irã, em 1969, se baseia na própria experiência. Depois de fundar duas startups de sucesso em 1996 (BizRate.com) e 2003 (Shopzilla), Mohit amargou três fracassos sucessivos até criar o Flipagram — aplicativo que permite criar e compartilhar histórias em vídeo via celular.
“As pessoas dizem que foi um sucesso da noite para o dia”, conta Mohit, referindo-se à empresa, que anunciou ontem um aporte de US$ 70 milhões feito por três fundos de investimento. “Na verdade foi um sucesso da noite para o dia que levou sete anos para acontecer”, brinca o empreendedor. Comparado com os mais de 1,4 bilhão de usuários do Facebook, o Flipagram ainda tem muito terreno a percorrer, mas os números iniciais mostram um crescimento explosivo similar ao de outros “fenômenos” anteriores da web. Lançado no fim de 2013, o aplicativo — que combina fotos, vídeos e música em filmes curtos — fechou o ano passado com 33 milhões de usuários. Em comparação, a rede social de Mark Zuckerberg conquistou um milhão de internautas nos seus primeiros 12 meses de vida, enquanto o Twitter e o Instagram arregimentaram, respectivamente, um milhão e dez milhões.
Se depender da popularidade do Flipagram no país, a fama dos brasileiros de entusiastas por redes sociais é mais que justificada. De acordo com Mohit, o Brasil é o segundo país com mais usuários do aplicativo. Perde apenas para os Estados Unidos, que concentra 40% do público do Flipagram. Depois do Brasil, integram a lista Reino Unido, Japão e México, apenas para citar os quatro principais mercados internacionais da empresa. Apesar dos resultados promissores, as ambições da empresa são muito maiores: “Queremos alcançar 5,2 bilhões de usuários de telefones celulares ao redor do mundo”, resume o CEO do Flipagram.
Dentro dessa estratégia, a principal arma para tentar manter o ritmo frenético de expansão é a música. Universal Music Group, Sony Music Entertainment e Warner Music, entre outras gravadoras, fecharam acordos com licenças globais com o Flipagram. Isso permite aos usuários do aplicativo acessar milhões de vídeos musicais, que podem ser usados na montagem de seus filmetes. A intenção, naturalmente, é atrair potenciais compradores de música digital, por meio de links diretos para a aquisição das canções (ou álbuns). “Qual o valor que os fãs de um artista geram no Facebook, no Instagram ou no Twitter”, questiona Mohit.
Em média, 14 milhões de novos vídeos foram criados via Flipagram a cada mês, entre janeiro e março deste ano. O total representa 8% da média do YouTube, que é de 170 milhões de vídeos carregados por mês. Embora ambas as plataformas estejam baseadas na postagem de vídeos, o Flipagram se distancia cada vez mais do formato inicial de ferramenta digital para assumir características típicas das redes sociais. “Quando comecei a empresa, sabia exatamente o que não fazer”, diverte-se Mohit, que vinha de fracassos nas startups Cheers (2012), Gripe (2010) e DotSpots (2007).
Não seria nada demais se, anos antes, o empreendedor não tivesse vendido as ferramentas de busca BizRate.com e Shopzilla por US$ 565 milhões. “Depois disso, eu achava que tudo ia ser fácil”, lembra Mohit, rindo.
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