Brasil quase ocupa lanterna em ranking de eficiência energética

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Entre as 16 maiores economias do planeta, o Brasil ocupa a 15ª posição em termos de eficiência energética, atrás não só de países desenvolvidos mas de outros Brics, como China (4ª colocada), Índia (11ª) e Rússia (14ª). Divulgada neste mês, a lista foi elaborada pelo American Council for an Energy-Efficient Economy (ACEEE), organização americana sem fins lucrativos voltada para o estímulo de políticas, programas e tecnologias de eficiência energética. No ranking, encabeçado pela Alemanha, o Brasil aparece à frente apenas do México.

A ordem de classificação foi determinada com base em 31 indicadores, distribuídos por quatro setores: esforços nacionais de eficiência energética, construções, indústria e transporte. No Brasil, por exemplo, os setores mais eficientes em termos energéticos são os de construção e transporte, segundo o relatório intitulado “ The 2014 International Energy Efficiency Scorecard ” (em tradução livre, “Panorama Internacional da Eficiência Energética 2014”).

A lista inclui 15 países mais a União Europeia (3ª colocada). O bloco foi incluído na lista devido ao peso econômico. Ao todo, as 16 economias avaliadas somam mais de 81% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e 71% do consumo global de energia, além de responderem por 79% das emissões de dióxido de carbono e gases do efeito estufa. “Índia e Rússia colocam o Brasil em posição incômoda”, analisa Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ, destacando que o ranking inclui muitos países de primeiro mundo. “A China é um país contraditório, com muita coisa avançada mas muitas outras atrasadas.” 

Este é o segundo ranking do gênero divulgado pela ACEEE. Em 2012, o conselho — formado em 1980 por pesquisadores na área de energia — analisou 12 países. Na época, o Brasil ficou em 10º lugar, seguido por Canadá e Rússia. Apesar de ter sido ultrapassado pelos dois países e por novos entrantes na lista de 2014, o Brasil não apresentou uma piora na sua situação, de acordo com Rachel Young, analista de pesquisa e principal autora do estudo deste ano. “No geral, o desempenho do Brasil não mudou muito entre as pesquisas de 2012 e 2014. Nas áreas em que teve um bom desempenho em 2012, o Brasil permaneceu igual, assim como nas áreas em que sua performance não foi tão boa”, explica Rachel. 

A pesquisadora ressalta que o país teve bom desempenho geral no setor de transporte em ambos os relatórios, com pontuação máxima referente ao uso de transporte público e à baixa quilometragem per capita percorrida em veículos. Mas o Brasil manteve baixa pontuação em termos de indústria e esforços nacionais. Um dos fatores que contribuíram negativamente — diz Rachel — é o baixo nível de investimento tanto em eficiência como em pesquisa e desenvolvimento.

A situação brasileira contrasta com a do Canadá, que melhorou sua posição no ranking de 2012 para 2014, passando do 11º lugar para o 9º . “A posição do Brasil no ranking deste ano não reflete uma piora em relação a 2012. O que houve foi uma melhoria em outros países”, resume Rafael Catelli Infantozzi, analista sênior da consultoria norte-americana ICF International.

Para Infantozzi, o país está um passo atrás dos outros quando se trata da eficiência energética na indústria. E também é carente de programas nacionais mais abrangentes nessa área. “Temos o Conpet, na área de petróleo e gás, e o Procel, da Eletrobras”, lembra o analista. “O Procel é um excelente programa, mas é limitado, não engloba todos os equipamentos.”

Diretor no Brasil da consultoria GCE, sediada na Rússia mas com atuação global, Dmitri Lobkov enfatiza que, ao contrário de outros países, o Brasil não conta com uma política de estado de eficiência energética. “Na China, na Rússia e na Índia, por exemplo, as empresas são obrigadas a fazer uma auditoria energética a cada cinco anos”, afirma Lobkov.

O executivo destaca que, para manter um ritmo de crescimento econômico sustentável entre 3% e 4% por ano, o país deveria ter uma folga de 16% entre a sua capacidade instalada de geração e sua capacidade total em termos de consumo. “No Brasil, essa diferença é estimada entre 1,5% e 6%. Para resolver a questão, o país teria de começar a construir muitas novas usinas. Ou, então, reduzir drasticamente o consumo, aumentando a eficiência energética.”

Indústria faz desempenho cair no Brasil 



Entre todas as 16 economias listadas pela ACEEE no estudo deste ano, o Brasil foi a que teve a pior performance em termos de eficiência energética na indústria. O resultado está longe de surpreender especialistas. Rafael Infantozzi, da ICF, lembra que, como parte do Programa de Eficiência Energética (PEE), da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), as distribuidoras têm de destinar 0,5% da receita operacional líquida para ações de combate ao desperdício de eletricidade. “A questão é que apenas 2% a 3% desses recursos vão para a indústria”, diz o analista sênior. O grosso dos recursos disponíveis vai para a melhoria da eficiência energética na classe residencial de baixa renda, onde há menor potencial de economia de eletricidade. “A atividade industrial responde por algo entre 35% e 40% da energia consumida no país”, esclarece Infantozzi.

De acordo com o analista, havia no Brasil, em setembro do ano passado, apenas cinco unidades industriais com a certificação ISO 50001, que representa as melhores práticas internacionais em gestão de energia. Nesse quesito, a campeã é a Alemanha. Em setembro de 2012, o país europeu tinha 453 plantas certificadas. Na mesma época, apenas quatro indústrias no Brasil haviam sido certificadas. “Durante muito tempo a energia foi barata e abundante no Brasil. Não havia um estímulo para as empresas investirem em eficiência energética”, diz Dmitri Lobkov, diretor da filial brasileira do GCE Group.

Embora concorde com vários pontos levantados no “Panorama Internacional da Eficiência Energética 2014”, Lobkov ressalta que o relatório não pode ser tomado como “verdade absoluta”. Na visão do engenheiro, o levantamento não considera fontes importantes de energia, como os biocombustíveis. Também não leva em conta — afirma Lobkov — o clima extremo de países como Brasil e Rússia. “No Brasil, qualquer indústria tem gastos imensos com refrigeração. Na Rússia, as companhias gastam com calefação. É muito diferente dos países de clima médio”, exemplifica.

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