Trigo do Brasil vence qualidade argentina

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No momento em que o Brasil discute a nova classificação do trigo, a Argentina registra perda de qualidade do produto. Le­­vantamento realizado pelo Instituto de Tecnologia Agro­pecuária do país vizinho (INTA) mostra retomada nos números de produção na safra 2010/11, mas perda em teor de proteína. O componente é essencial para a formação do glúten, que, por sua vez, tem a função de impedir que o pão ou bolo murchem após irem ao forno. O Brasil, por outro lado, vem ganhando em qualidade e perdendo produção. En­­quanto os índices de proteína do trigo argentino ficam entre 9% e 10%, os brasileiros se mantêm entre 12% e 14%, mostram estudos técnicos dos dois países.

Para André Cunha, gerente de negócios e Ph.D em genética da Biotrigo, do Rio Grande do Sul, os produtores argentinos deixaram de se preocupar com a qualidade do produto nos últimos anos para focar em rendimento. “A partir do ano 2000, eles passaram a importar uma variedade francesa chamada baguete, que hoje é a mais utilizada no país por ter alta produtividade, mas com menos proteína”, afirma. A troca de sementes elevou o rendimento médio da Argentina de 2,5 toneladas por hectare para 3,45 toneladas por hectare na última safra.

O assessor técnico da Asso­ciação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Reino Pecola Rae, considera que esse ganho não compensou a perda de credibilidade do produto argentino. “O conceito deles no mercado mundial caiu assim como a cotação do trigo, que hoje vale menos do que o brasileiro”, observa. Rae acredita que o Brasil tem condições de ganhar parte do mercado da Argentina, mas para isso precisa priorizar a qualidade. “A classificação que está em vigor no país incentiva a produção do que não tem mercado. Precisamos atender me­­lhor as exigências do consumidor”, analisa.

As novas e mais rígidas regras para seleção do trigo entrarão em vigor em julho do ano que vem. A medida tem desmotivado os triticultores brasileiros. Na tentativa de conter maior redução de área, o Paraná discute nesta semana o futuro do trigo no estado em seminários promovidos pela Federação da Agricultura(Faep) e pela Organização das Coope­rativas (Ocepar). Os eventos ocorrem a partir de amanhã em quatro municípios: Ponta Grossa, Guarapuava, Pato Branco e São João.

Na última safra, os paranaenses reduziram em 10% o tamanho da área plantada com o cereal. Com isso, a produção do estado deve chegar a 2,8 milhões de toneladas, contra 3,3 milhões colhidos em 2010, conforme a Companhia Nacional de Abas­tecimento (Conab). Para o país, a estatal estima queda de 7% na produção em relação ao ano passado, ao projetar 5,4 milhões de toneladas.

Cooperativas do Paraná querem determinar zoneamento

A busca por variedades altamente produtivas mas de qualidade questionável tende a diminuir no Paraná. A avaliação é do assessor técnico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), Robson Mafioletti, que nesta semana ministra palestra sobre tendências do mercado de trigo em seminários realizados em Ponta Grossa, Guarapuava, Pato Branco e São João. Uma das decisões já tomadas é que as cooperativas vão ditar o uso de variedades de trigo com base em discussões iniciadas no ano passado. O quadro deve ser definido nas próximas semanas.

De acordo com o especialista, nos últimos anos, os triticultores paranaenses apostaram em sementes que não corresponderam às expectativas do mercado, o que travou a comercialização do produto e desmotivou o plantio da safra atual. Diante de uma conjuntura ainda mais rígida para o controle de qualidade de trigo no Brasil, a Federação da Agricultura do Estado (Faep) e a Ocepar pretendem apontar alternativas de tecnologias que motivem os agricultores a investir na uniformização da produção. “A ideia é que as cooperativas forneçam variedades específicas a seus cooperados. Assim teremos produtos da mesma qualidade”, diz Mafioletti. Outra proposta das duas entidades é fomentar a segregação do trigo no Paraná.

Atualmente, o produtor de trigo do Paraná tem escolhido as variedades de acordo com a disponibilidade de preço e expectativa de produção. A indústria de sementes anunciou opções que podem atender aos novos padrões a serem adotados pelo governo, mas ainda não há segurança de que haverá volume suficiente para toda a lavoura. O Paraná é responsável por metade da produção nacional.

O diretor técnico da Sementes Mutuca em Arapoti, Ivo frare, diz que o aumento da dose de aplicação de nitrogênio na lavoura tem resultado em bons índices de produtividade e qualidade com sementes que vêm sendo utilizada nos últimos anos.

Fonte: Acrissul

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