Os bancos brasileiros continuam imunes a crises e desaceleração econômica. Se cai a procura por crédito, vendem mais serviços; se algumas linhas apresentam inadimplência alta, se voltam para outras menos arriscadas; se o juro sobe, ganham aplicando em títulos do governo. E seguem cortando custos.
No primeiro trimestre deste ano não foi diferente dos últimos: enquanto muitas empresas apresentam prejuízos ou forte desaceleração dos ganhos, o lucro líquido dos três maiores bancos privados brasileiros – Itaú, Bradesco e Santander – somou R$ 11,6 bilhões. O montante é 24,9% maior do que o obtido no mesmo trimestre de 2014. Para os analistas consultados porBrasil Econômico , em 2015 como um todo esse aumento deve ser um pouco menor – as previsões indicam 14%.
Os bancos ainda contaram com a ajuda da variação cambial no primeiro trimestre, o que gerou crédito tributário – o caso do Itaú foi o mais notável, com uma ativação de R$ 6 bilhões que gerou R$ 2,7 bilhões de imposto a restituir. Não fosse isso, portanto, o lucro líquido do Itaú teria sido de R$ 3 bilhões. Bradesco e Santander fizeram o mesmo, ainda que em menores proporções.
A inadimplência média nos três bancos caiu 0,4 ponto percentual, de 3,6% para 3,2% – isso apesar de pequena alta verificada pelo Bradesco. Dos três, foi o Santander que registrou a maior queda, de 3,8% para 3%. O índice de atrasos acima de 90 dias da filial do banco espanhol ficou igual ao do Itaú, e menor do que a do Bradesco.
A rentabilidade também subiu nos três bancos. A do Santander continua a menor, mesmo sendo a que mais evoluiu em 12 meses (de 11,2% para 12,8%). O banco reconhece que tem muito capital e que, por isso, para fazê-lo render é preciso aumentar os ativos. Não é por outra razão que o banco está na disputa pela compra do HSBC no Brasil, segundo fontes que preferem não se identificar. A rentabilidade do Itaú permaneceu imbatível em elevados 24,2% mas o Bradesco não fica muito atrás, com 22,4%.
O crédito nos três bancos continuou subindo apesar da queda da demanda: na média, a alta em 12 meses foi de 12,4%. A expansão mais forte foi registrada pelo Santander: 17,8%, para R$ 324,1 bilhões. Erivelto Rodrigues, presidente da Austin Rating, prevê um aumento de 8% a 10% para as carteiras dos grandes bancos e de 20% para os lucros em 2015. Ele também está otimista quanto aos resultados: “A inadimplência pode até aumentar – o que ainda não ocorreu – que os bancos estão preparados para enfrentá-la”, acredita.
“Os bons resultados vieram da melhora na margem, nas receitas de prestação de serviços e controle de despesas”, diz Rodrigues.
Carlos Daltozo, analista do BB Investimentos, também vê os atrasos aumentando em 2015, “mas nada dramático como em 2009 e 2010”. Para ele, a alta deve ser de de 0,2 a 0,3 ponto percentual. Em relação aos lucros, ele espera aumento de 15% neste ano sobre 2014. Daltozo nota, porém, que apesar da reprecificação das carteiras – aumento dos juros cobrados dos tomadores – que turbinou muito a receita de juros, houve aumento considerável nas despesas de provisões para devedores duvidosos o que, segundo ele, merece muita atenção.
João Augusto Salles, diretor da consultoria Lopes Filho, acha que 2015 deve encerrar com alta de 5% a 8% do lucro desses bancos, no máximo. “Não acho plausível manter um aumento de 25%”, diz. “Comparado com o quarto trimestre, a alta foi de 4% – esse é um patamar mais factível diante da queda de 1% do PIB, Selic a 13,5% e inflação galopante, que impactam negativamente a renda e a qualidade do crédito”, acrescenta. Salles vê fatores extraordinários explicando a alta no primeiro trimestre e se diz agora mais cauteloso. “A alta da Selic teve impacto favorável na carteira de títulos e valores mobiliários dos bancos, mas mais na frente começam os efeitos nocivos na carteira de crédito”, diz. “Outra variável foi a reprecificação nos juros dos empréstimos que foi muito acima do que subiu a Selic, mas isso não vai continuar”, diz.
Daltozo é mais otimista: ainda está “bastante confiante” no desempenho dos bancos em 2015, apesar do cenário difícil. “O aumento das provisões tem sido compensada com mais receita com juros”, diz, acrescentando que o ocorrido no primeiro trimestre mostra o caminho a seguir – mesmo com o crédito crescendo pouco, de 6% a 7%.
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