Brasília – As irregularidades que estão sendo investigadas pela Polícia Federal na Petrobras acontecem no país inteiro, afirmou nesta terça-feira o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, um dos delatores de um suposto esquema de corrupção na petroleira, em depoimento na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI).
Costa fez diversas declarações aos parlamentares, apesar de ter dito inicialmente que não responderia a perguntas, para não comprometer seu acordo de delação premiada com a Justiça.
"Isso que está no noticiário, que acontecia na Petrobras, acontecia no Brasil inteiro, nas rodovias, nas ferrovias, nos portos, aeroportos, nas hidrelétricas, isso acontece no Brasil inteiro, é só pesquisar", declarou Costa à CPMI que investiga denúncias envolvendo a Petrobras.
Costa foi preso neste ano dentro da operação Lava Jato da Polícia Federal e passou seis meses preso na carceragem de Curitiba até aceitar acordo de delação premiada, na qual denunciou um suposto esquema de sobrepreço e corrupção na Petrobras que alimentaria os cofres de partidos políticos, entre eles o PT, PP e o PMDB.
Costa foi questionado sobre quantos políticos foram citados em suas denúncias de corrupção na estatal, no âmbito da delação premiada.
"Algumas dezenas", afirmou Costa, sem dar detalhes, após acareação com o ex-diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró na CPMI.
Costa também mencionou à Justiça a existência de um cartel de grandes empreiteiras em obras da Petrobra. Seus depoimentos colaboraram para levar à prisão, recentemente, vários executivos de empreiteiras envolvidas em obras da Petrobras, em uma nova fase da operação Lava Jato, mas a maioria já foi solta.
Apesar de não ter dado detalhes de seu depoimento à Justiça, ele confirmou o conteúdo de suas denúncias.
"Não tem nada na delação que eu falei que eu não confirme", afirmou o ex-diretor.
INFLUÊNCIA POLÍTICA
Costa ressaltou que entrou na Petrobras em 1977, por concurso público, e assumiu a diretoria de Abastecimento 27 anos depois. Segundo ele, sem apoio político, não teria conseguido assumir uma diretoria da estatal.
"Desde o governo Sarney, governo Collor, governo Itamar, governo Fernando Henrique – todos –, governo Lula, governo Dilma, todos os diretores da Petrobras e diretores de outras empresas, se não tivessem apoio político, não chegavam a diretor. Isso é fato. Pode ser comprovado", disse Costa.
Costa disse se arrepender "amargamente" por ter aceitado o cargo.
"Infelizmente, infelizmente– eu me arrependo amargamente, porque estou sofrendo isso na carne, estou fazendo minha família sofrer–, infelizmente, aceitei uma indicação política para assumir a Diretoria de Abastecimento. Estou extremamente arrependido de ter feito isso", disse.
"Aceitei esse cargo e esse cargo me deixou e nos deixou aqui onde estou hoje."
A Petrobras afirmou anteriormente em nota que "está sendo oficialmente reconhecida pelas Autoridades Públicas como vítima nesse processo".
A companhia tem dito que vem acompanhando as investigações e colaborando efetivamente com os trabalhos das autoridades.
Já afirmou que trabalha com medidas adequadas buscando ressarcimento de supostos recursos desviados e de eventuais sobrepreços de contratos, conforme mencionado pelo ex-diretor.
CERVERÓ NEGA CORRUPÇÃO
O ex-diretor da área internacional do Petrobras Nestor Cerveró negou qualquer conhecimento e envolvimento em corrupção na estatal.
"Desconhecia, portanto, para mim não havia" corrupção da estatal, disse Cerveró, que defendeu a controversa compra da refinaria de e Pasadena, nos Estados Unidos.
Cerveró reiterou que a aquisição foi aprovada pelo Conselho de Administração e que foi um bom negócio para a Petrobras. "Pasadena foi um bem negócio, foi um negócio dentro do planejamento estratégico da Petrobras na época e, como tal, foi aprovado pelo Conselho", disse.
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