‘Rumamos na direção de criar programas específicos’, diz Guruduth Banavar da IBM

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“Sinto muito, Dave. Receio que eu não possa fazer isso”. O pedido de desculpas vindo de H.A.L 9000 — o mais famoso computador pensante da história do cinema — é quase uma sentença de morte para o astronauta Dave Bowman. Numa cena fundamental do clássico “2001 – Uma Odisseia no Espaço”, de Stanley Kubrick, Bowman tenta retornar à espaçonave depois de concluir uma tarefa no espaço sideral, mas é impedido por H.A.L, que se recusa a abrir uma escotilha. Para o indiano Guruduth Banavar, vice-presidente de Computação Cognitiva da divisão de pesquisa da IBM, as máquinas pensantes serão, num futuro próximo, tão comuns quanto inofensivas. “A direção para a qual rumamos hoje é a de criar programas de computador que são muito específicos para um determinado domínio (do conhecimento)”, explica o executivo. “São concebidos para não serem independentes, para trabalhar em conjunto com o profissional”.

Não foi à toa que a Big Blue escolheu Watson, auxiliar do detetive Sherlock Holmes, para dar nome ao seu principal produto na área de computação cognitiva: um software capaz de compreender a linguagem humana e responder perguntas complexas com base no raciocínio. Segundo Banavar, até o fim deste ano, a tecnologia estará disponível comercialmente em sites de e-commerce. Isso permitirá que um consumidor interaja através da fala com um atendente virtual para saber, por exemplo, qual a mochila mais adequada para escalar o Monte Fitz Roy, na Patagônia argentina. A IBM procura um parceiro no Brasil para produzir uma versão em português do Watson.

Na ficção científica, o computador com habilidade de pensar por si próprio é muitas vezes retratado de forma negativa. Até que ponto essa visão pessimista está próxima da realidade?

A direção para a qual rumamos hoje é a de criar programas de computador que são muito específicos para um determinado domínio (do conhecimento), como o câncer ou um tipo de seguro. Um domínio muito específico, estreito. E são concebidos para não serem independentes, para trabalhar em conjunto com o profissional de uma área. Por exemplo: um sistema desenhado para diagnosticar câncer trabalharia com um oncologista. A questão é que atualmente um oncologista não tem como ler toda essa literatura médica, cerca de dois mil ou três mil novos artigos científicos com testes clínicos que são escritos a cada ano. Adivinhe quantos anos leva para um médico entender algo que foi pesquisado hoje. Vamos supor que eu faça uma experiência hoje, consiga descobrir algo novo, e que eu publique um ensaio a respeito. Sabe quantos anos leva para que uma aplicação nova seja posta em prática?

Quantos?

Dez anos, aproximadamente. A questão a ser feita é: Por que tem de levar dez anos para um resultado que gerei hoje chegar até um médico? E se cada médico que clinica tiver um Watson capaz de ler continuamente todo novo trabalho que está sendo publicado? A alternativa a isso é uma máquina como o H.A.L (do filme de Kubrick), um computador geral, uma inteligência geral. E isso é completamente diferente daquilo que estamos falando. Estamos falando de um assistente especializado num campo muito específico.

Quais as principais mudanças pelas quais a computação vai passar nos próximos anos?

Vou dar um exemplo, do ponto de vista do público em geral. Suponha que você queira saber qual a melhor rota do lugar onde está até o seu trabalho. Hoje, é fácil fazer isso usando o Google, o Waze. Mas eu vou fazer uma pergunta mais difícil: sou um <MC1></MC>turista vegetariano e quero saber onde posso ir para assistir futebol e beber cerveja num restaurante vegetariano. É uma pergunta muito específica. Que sistema hoje pode me ajudar com isso? O Watson pode. O programa pode analisar todos os blogs, as notícias de jornal…

Seria algo como um mainframe (computador grande e caro, de alto desempenho)?

Imagine um computador na nuvem. Não é um supercomputador, um mainframe. É um software que lê qualquer tipo de blog, comentários de turistas nas redes sociais, um tuíte, uma notícia do ano passado sobre os melhores restaurantes vegetarianos do Rio de Janeiro. O Watson consegue ler todas essas coisas e apontar os cinco ou dez melhores estabelecimentos, de acordo com todas essas informações reunidas.Você pode fazer perguntas complicadas, do tipo: sinto como se tivesse febre e pode ser que eu tenha contraído dengue, mas sou alérgico a antibióticos, quem pode me ajudar? Não é uma simples busca. É como perguntar para alguém.

Os computadores terão a capacidade de interagir de forma natural com os humanos?

Sim. Como nós estamos conversando agora, por meio da linguagem falada. A ideia é de que as interações aconteçam naturalmente através da linguagem. Você pode me perguntar: qual o melhor tipo de apólice de seguro-saúde que posso comprar para os meus pais, que estão vindo da Índia para me visitar? Há muitas companhias que oferecem muitos tipos diferentes de apólices. Como encontrar a resposta? O que eu faria seria sentar para fazer uma pesquisa na internet por dez horas. Ou, então, ligaria para um amigo que já adquiriu um seguro desse tipo para perguntar a ele. 

A computação cognitiva pode ser útil também para os varejistas?

Já temos em operação comercial projetos que usam o Watson sobre uma plataforma (de e-commerce). Temos centenas de clientes.

Seria exagero pensar que, dentro em breve, não precisaremos mais ir até uma loja física para ter informações detalhadas ou tirar dúvidas a respeito de um determinado produto?

Até o fim deste ano veremos muitas empresas usando o Watson em seus negócios. Estamos procurando parceiros para fazer uma versão em português desse software. Há pessoas no Brasil interessadas em desenvolver o Watson mas não posso dar mais informações a respeito. Vamos anunciar quando tudo estiver acertado.

Com a evolução tecnológica, os supercomputadores estarão na nuvem?

Não haverá necessidade de grandes computadores. Tudo vai estar na nuvem.

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