Empresas ligadas ao campo superam o Ibovespa em 2013

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A maior parte das ações das principais companhias do agronegócio listadas na BMF&Bovespa teve desempenho superior ao principal índice da bolsa, o Ibovespa, que caiu 15,5% em 2013. Das 13 principais empresas do segmento listadas, oito fecharam acima do índice no ano passado, segundo levantamento do Valor Data. Outras cinco tiveram performance inferior.

A queda dos preços das commodities agrícolas foi a principal razão para o recuo das ações das companhias produtoras de grãos e fibras e também das de fertilizantes. As cotações médias da soja foram em 2013 6,5% menores do que em 2012 e as do milho, 18,7% mais baixas. Esse cenário, no entanto, favoreceu as companhias de frangos e suínos, que têm nesses grãos a principal matéria-prima da ração dos animais.

De forma geral, foi um bom ano para as empresas de proteína animal, com exceção da Marfrig, cujos papéis caíram 52,83% em 2013, a maior perda entre as companhias do agronegócio. O destaque positivo foi a JBS, maior companhia de carnes do mundo. Suas ações se valorizaram 47,64% no ano passado, a quarta maior alta do Ibovespa e o melhor desempenho entre as companhias ligadas ao campo. É preciso ponderar, contudo, que as ações da JBS estavam muito "baratas" no início do ano, valendo menos de R$ 6.

Na avaliação do diretor de relações com investidores da JBS, Jeremiah O'Callaghan, a alta dos papéis da companhia tem lastro no ciclo favorável para a produção de carne bovina no Brasil, com maior oferta de gado e demanda externa aquecida, além da melhor gestão dos custos de produção. "Isso foi definitivo na percepção do mercado", afirma.

Além disso, ele cita um evento importante: o anúncio da compra da Seara Brasil, em 10 de junho. A operação teria trazido ao investidor a "percepção de valor agregado", conforme o executivo. Desde o anúncio, as ações da JBS subiram 23%.

Agora sob liderança do empresário Abilio Diniz, a BRF teve um ano cercado de euforia e encerrou 2013 com seus papéis valendo 18,43% mais. Esse desempenho está ligado às promessas, feitas por Abilio, de melhor rentabilidade e internacionalização. Um olhar mais detalhado sugere, porém, que o investidor ficou mais cético após a divulgação do balanço do terceiro trimestre, em 28 de outubro. Dessa data até o fim de dezembro, as ações caíram 10,6%.

Terceira maior processadora de carne bovina do país, a Minerva Foods viu suas ações subirem 2,31% em 2013. O diretor financeiro da companhia, Edison Ticle, afirmou que os papéis também foram beneficiados por dois anúncios feitos ao longo de 2013: a entrada do IFC, braço do Banco Mundial para investimento no setor privado, como acionista e a compra da área de bovinos da BRF.

Única processadora de carnes a registrar baixa no preço das ações, a Marfrig sofreu com a desconfiança do mercado devido ao seu elevado endividamento. Para reduzir seu passivo, a Marfrig vendeu a Seara e anunciou, em outubro, um plano de reestruturação que, após o acordo com o BNDES anunciado semana retrasada, deve levar à geração de fluxo de caixa livre em 2014, projeta a companhia.

Já as empresas sucroalcooleiras foram penalizadas em 2013 devido à queda dos preços do açúcar e à forte presença do governo na regulação do mercado de combustíveis. Essa indefinição vem afetando a rentabilidade do etanol e torna turva a visão futura de rentabilidade do setor.

Nesse segmento, só se salvou o grupo São Martinho, cujos papéis subiram 3,62%. Ainda assim, esse desempenho ficou muito aquém dos ganhos de 2012, quando as ações da companhia subiram expressivos 69,64%. "O que ocorreu em 2013 está muito mais ligado ao mau momento do mercado de bolsa de valores", disse o diretor de relações com investidores da São Martinho, Felipe Vicchiato.

Os papéis da sucroalcooleira Biosev, controlada pela francesa Louis Dreyfus Commodities (LDC), recuaram 23,66% de 19 de abril, quando fez o IPO, a dezembro passado. Também pesou para a Biosev a baixa liquidez das ações. A queda se acentuou no último trimestre do ano após a divulgação de quebra de safra dos canaviais da Biosev em Mato Grosso do Sul.

Os papéis da Biosev, assim como outras do mesmo setor, podem, no entanto, se beneficiar em 2014 se as cotações internacionais do açúcar de fato reagirem no segundo semestre. Mas as incertezas podem se acentuar, sobretudo em um ano eleitoral, que deve também limitar o anúncio de medidas que beneficiariam o setor, mas são "impopulares", como novos reajustes da gasolina.

Companhias que operam com açúcar e etanol e ainda em outras áreas também registraram perdas. É o caso da Tereos Internacional, que controla a Guarani e atua no processamento de milho e mandioca. As ações da empresa caíram 18,19%, puxadas pela queda de cerca de 16% dos preços do açúcar no ano e pela baixa liquidez dos papéis, segundo o diretor de relações com investidores da Tereos, Marcus Thieme.

A Cosan, que tem na distribuição de combustíveis a maior parte de sua receita, viu suas ações recuarem 3,54% em 2013. Apesar de deter a maior empresa de processamento de cana do país, a Raízen, a Cosan teve em 2013 revezes ligados à sua operação logística. A empresa não conseguiu comprar o controle da ALL Logística e entrou numa celeuma contratual com a então parceira, com a qual tem um acordo de transporte de açúcar por ferrovia.

Entre as empresas agrícolas, o destaque foi a SLC Agrícola, cujos papéis subiram 3,73%, ante a queda de 7,05% da Vanguarda-Agro no período e de 4,48% da BrasilAgro. Para o presidente da SLC, Aurélio Pavinato, a alta foi positiva se comparada ao desempenho da bolsa. Ele acredita que os papéis estão subavaliados, dado que a companhia cresceu 21% em área plantada em 2013. "O mercado não está animado com os preços das commodities agrícolas", diz.

Já os papéis da Vanguarda Agro recuaram devido ao desempenho negativo da companhia, que teve um prejuízo líquido de R$ 179 milhões nos primeiros nove meses de 2013. Por sua vez, as ações da BrasilAgro foram afetadas novamente pela falta de liquidez, na avaliação de Ana Paula Ribeiro, coordenadora de relações com investidores da companhia.

Os preços mais baixos das commodities também prejudicaram as companhias de fertilizantes na bolsa em 2013. As ações da Fertilizantes Heringer caíram 32,82% no ano passado. Conforme o presidente da companhia, Dalton Carlos Heringer, a queda das commodities levou a empresa a reduzir os preços dos adubos, apesar da crescente demanda. A baixa liquidez dos papéis também pesou, segundo Heringer. Para o presidente da Nutriplant, Ricardo Pansa, a baixa liquidez foi o principal motivo para a queda das ações da companhia de fertilizantes especiais.

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