A interpretação da ata divulgada ontem é de que a Selic será reajustada em mais 0,25 ponto na próxima reunião
Divulgada ontem, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central sinaliza mais um aumento de 0,25 ponto percentual na Selic no encontro de abril. A interpretação é feita por economistas a partir do documento, que trouxe muitas partes parecidas com as atas anteriores e destacou a inflação "ligeiramente acima" do esperado.
"Não há nada na ata que possa indicar o fim desse ciclo de aumentos. Quem está vendo a inflação fora do nível imaginado e com força persistente acaba por indicar sua disposição de aumentar a Selic mais uma vez", explica Carlos Kawall, economista-chefe do banco J. Safra e ex-secretário do Tesouro. "Ainda que tenha lembrado o efeito acumulativo das altas, que age com certo retardo sobre os indicadores, o Banco Central continua desconfortável com a inflação".
Kawall, contudo, deixa aberta a possibilidade de novos indicadores mudarem o entendimento do Copom. "Caso não pare em 11%, me arrisco a dizer que ficará abaixo, e não acima desse patamar". O cenário mais provável, na opinião do especialista, é uma nova alta de 0,25 ponto percentual. Seria a última elevação do atual ciclo, iniciado em abril do ano passado. "Depois disso, reinicia em dezembro com alta de 0,5 ponto, indo até 12,5% em 2015", projeta.
O entendimento de Kawall está em linha com as movimentações no mercado futuro. Logo após a divulgação da ata, cerca de 80% dos contratos refletiam mais uma alta de 0,25 ponto. O restante esperava manutenção da taxa.
Carlos Pedroso, economista sênior do Banco de Tokyo-Mitsubishi no Brasil, segue a mesma linha. "A atual escalada para na reunião de abril porque todo o aumento de juros leva um tempo para ter o seu efeito. É válido fazer uma parada técnica, de observação". O patamar de 11%, de acordo com o especialista do banco japonês, seguirá até o fim de 2015. A equipe do banco acredita que no próximo ano, independentemente do resultado da eleição, haverá um ajuste fiscal mais relevante. Isso tirará parte do peso atualmente sobre os ombros do Banco Central.
Uma amostra disso aconteceu após a divulgação da meta de superávit para 2014, em 1,9% do PIB. O controle de gastos sendo feito, a Selic não precisará crescer tanto. "Além da meta fiscal, o nível de atividade econômica está fraco e a apreciação recente do real têm o poder de reduzir a pressão sobre a inflação. O cenário para o fim do ciclo em breve estará montado".
"O conjunto, como um todo, mostra que o BC está executando o que deve ser feito", resume Fernando Holanda Barbosa Filho, pesquisador da área de Economia Aplicada do Ibre/FGV. O especialista é outro a esperar pela derradeira alta de 0,25 ponto no próximo encontro do Copom. "Até porque a cada reunião fica mais difícil estender o ciclo de aumentos da Selic já que temos uma eleição se aproximando. Isso é algo que certamente atrapalha a condução da política monetária. Uma medida mais dura só aparecerá até meados do ano. Por isso vejo elevação na próxima reunião", explica Barbosa Filho.
Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco, também tirou da ata indicativos de que a série de oito elevações da Selic caminha para um fim em breve. Para o especialista, já se observam sinais macroeconômicos que podem levar o Banco Central a interromper o ciclo.
"O Copom afirma que a demanda e a oferta têm ritmos de crescimento que ‘paulatinamente se aproximam', provavelmente indicando que o ajuste na política monetária já começa a induzir um rebalanceamento da economia. De resto, a perspectiva é de ‘ritmo de expansão da atividade doméstica relativamente estável este ano'", escreveu Goldfajn, citando partes da ata que, na opinião do especialista, trouxe poucas mudanças em relação à edição anterior. "A ata ressalta que oferta e demanda agregadas estão se aproximando, que a projeção para 2015 recuou e que os efeitos do aperto monetário são cumulativos. A ata é consistente com nosso cenário de um aumento adicional de 0,25 ponto nos juros em abril, e manutenção da taxa Selic em 11% até o final de 2014".
Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners, conseguiu colocar em proporção sua expectativa em relação à próxima reunião. "As taxas efetivas de inflação acima do esperado, o que podemos denominar de ‘surpresa inflacionária', continuam a preocupar a função de reação do Banco Central, o que deve manter como cenário mais provável (com probabilidade de 70%) uma nova elevação da taxa básica de juros na decisão de política monetária de abril, de 10,75% para 11%", afirmou em relatório.
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