O Banco do Brasil (BB) vai passar a aceitar cartões de outros bancos para pagamentos na sua rede de agências e terminais de autoatendimento (ATM). A informação foi dada ontem pelo diretor de Cartões do BB, Raul Moreira, após sua apresentação durante o CIAB, feira de tecnologia bancária promovida pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
O BB é o terceiro grande banco a aderir a essa prática. Em março, o Brasil Econômicoanunciou que o Itaú estava aceitando cartões de concorrentes para pagamentos de contas. Mas o projeto estava ainda em fase experimental, segundo o banco — e não incluía a aceitação nos caixas tradicionais, apenas nos ATMs. Anteontem, o Bradesco havia confirmado que também já está em testes para aceitação de cartões dos outros, segundo seu diretor Luca Cavalcanti.
“A aceitação de cartões e compartilhamento de infraestrutura é um caminho natural que atende ao principio da interoperabilidade, que o regulador (Banco Central) está exigindo a partir das novas regras de meios de pagamento que saíram no ano passado. Tudo que aumenta a segurança do cliente reduzindo a necessidade de andar com dinheiro vivo; e ao mesmo tempo facilita as transações é bem-vindo”, diz Moreira, do BB.
Além disso, ele também admite que a estratégia pode ajudar a conquistar mais clientes dos concorrentes. Ele não deu uma data para começar a aceitar cartões alheios, mas avisou que será breve. “O sistema hoje está buscando a interoperabilidade não só dos cartões mas também nos sistemas internos dos bancos”, diz. O diretor do BB disse ainda que está avançando no sentido de compartilhamento de infraestrutura de caixas automáticos. “Estamos desenvolvendo um projeto maior com o objetivo de atender melhor o cliente, que não precisa mais ir com dinheiro pagar uma conta no BB mesmo que não seja nosso correntista. Nossa visão é sistêmica”.
No Itaú, os pagamentos com cartões de débito de outros bancos foram iniciados no Rio de Janeiro para faturas de cartões Itaucard, boletos de qualquer banco desde que em dia, contas de concessionárias (luz, água, telefone), mesmo vencidas, conforme ïnformação de banners expostos em agências da instituição na cidade. Os pagamentos são processados pela credenciadora do banco, a Rede (ex-Redecard). É como um pagamento feito com cartões de débito em uma loja ou restaurante. Mas segundo especialistas do setor, não é uma operação tradicional, sujeita às mesmas regras de comissionamento. "O objetivo principal foi tirar gente das filas das agências", previu um executivo próximo à operação.
O diretor do BB disse esperar que o percentual de participação dos cartões — de crédito, débito e pré-pagos – no consumo das famílias passe de 27% para 50% nos próximos dez anos. “O segmento continua crescendo bastante, mesmo com economia mais fraca. E a nova legislação vai ajudar a deslanchar”, disse, confirmando que o setor está investindo fortemente em pré-pagos. “É um instrumento futuro de bancarização e de educação financeira. Essa é uma das grandes alavancas de crescimento futuro do mercado de cartões, para diminuir o montante absurdo de papel moeda hoje em circulação no Brasil”.
O crescimento anual do saldo de cartões (com e sem juros) em março foi de 15,9%, para R$ 141,6 bilhões – maior alta desde novembro de 2011, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs). A expansão corresponde a mais do que o dobro da apresentada pelo crédito de recursos livres, de 7,1%, em março de 2014. A entidade espera que 2014 termine com valor transacionado equivalente a R$ 1 trilhão, entre débito e crédito.
Segundo o chefe do departamento de Operações Bancárias do BC, Daso Maranhão Coimbra, entre os principais objetivos das novas regras para meios de pagamentos eletrônicos regulamentadas por resoluções do BC no final do ano passado estão, exatamente, ampliar o atendimento da população não-bancarizada. Entre outras medidas, essas novas regras passaram a obrigar empresas não financeiras — as instituidoras de pagamentos — a pedir, até novembro, autorização no BC para operar, e manter capitais mínimos para assegurar seus negócios.
A maioria dos cartões pré-pagos e de benefícios, como alimentação e transporte — os que dão acesso aos não-bancarizados —, são emitidos por essas empresas, que até então, estavam à margem da regulação do BC. Para estimular seu crescimento e a entrada de novos participantes, o BC resolveu estender seu domínio até elas.
Coimbra disse ainda que, com a definição de regras, pretende ver o desenvolvimento do mercado e com ele, a queda dos preços. “Esperamos também que o prazo de repasse dos cartões aos estabelecimentos, hoje de 30 dias, seja reduzido. Isso não existe em nenhum outro país. É mais uma das ‘jabuticabas’ brasileiras”, disse. O chefe do BC falou, também, na regra que vai obrigar a interoperabilidade dos meios de pagamentos — seja por mobile payment (pagamentos por celular), seja por pré-pagos. “As empresas instituidoras de pagamento não precisam abrir uma conta em um banco, podem abrir uma diretamente na conta de reservas do BC”, esclareceu.
JP Morgan não vê Brasil entre cinco frágeis
Os estrangeiros estão mais confiantes no futuro do Brasil do que os brasileiros. A afirmação é do presidente do J.P. Morgan no Brasil, José Berenguer. “O brasileiro é um pessimista. Talvez porque seja um país de jovens, que desejam tudo imediatamente. Mas o Brasil fez sua lição de casa. Não vemos o Brasil entre os cinco frágeis. Não estamos preocupados com a Copa, mas com a baixa taxa de investimento, falta de funding de longo prazo e encarecimento do custo do dinheiro com o aperto da regulamentação”, disse o executivo ontem em sua apresentação no segundo dia do CIAB, feira de tecnologia bancária promovida pela Febraban.
Berenguer reafirmou que a visão do banco americano sobre emergentes é que não dá para ser global sem estar no Brasil. “Dentro de 20 ou 30 anos os emergentes representarão 50% do PIB mundial. E o Brasil é o país emergente com o mercado financeiro mais organizado e seguro de todos”, disse. Para ele, a participação dos bancos estrangeiros no crédito no Brasil, hoje em 16%, vai aumentar. “Há oportunidades excepcionais”.
O executivo disse também que apesar de ter ligeiramente piorado e de ser alvo de críticas, a politica fiscal do Brasil também se destaca positivamente. Mas Berenguer tem suas preocupações, também — e a maior delas, disse, é a baixa taxa de investimentos. “Esse é um ponto que merece atenção. O Brasil tem um déficit de R$ 200 bilhões em investimentos de infraestrutura — portos, aeroportos, rodovias e ferrovias – somente no curto prazo e não há dinheiro longo suficiente para isso”. Para ele, a imensa concentração da captação dos bancos em CDBs (certificados de depósitos bancários) preocupa, pois é um recurso de curto prazo.
Com a implantação das regras da terceira fase do acordo de capitais (Basileia), a situação vai piorar, diz. “A regulamentação vai ficar cada vez mais apertada e as exigências de capital encarecerão o custo do dinheiro. Será preciso encontrar alternativas para os financiamentos mais longos, pois não é possível ao BNDES prover tudo o que será necessário. E os recursos de longo prazo hoje já são poucos, e caros”, diz.
E, apesar de considerar que o país fez sua lição de casa em muitos aspectos, principalmente no que diz respeito à inclusão de 40 milhões de pessoas na classe média, o PIB na última década foi puxado pelo consumo. Para ele, agora o desafio é tornar consumo mais sofisticado e promover investimentos sustentáveis.
O presidente do J.P. Morgan disse também que os investimentos estrangeiros diretos continuam fortes mas não cobrem mais os déficits em conta-corrente: “Estamos mais dependentes de fluxo de capitais de portfolio (investimentos em renda fixa e variável)”.
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