Divisão da multinacional britânica BT (British Telecom), a BT Global Services iniciou há quatro anos um plano de investimentos em mercados emergentes que está longe de terminar. Na América Latina, por exemplo, as operações da companhia dobraram de tamanho desde 2010. “O crescimento da nossa receita na região foi de 15% ao ano no período”, diz Alex Inglês, diretor de Desenvolvimento de Negócios da BT América Latina, que hoje participa de um evento sobre TI organizado pelo consulado britânico de São Paulo, na capital paulista.
A Copa do Mundo Brasil é apontada como o evento esportivo mais conectado da história. Essa é uma tendência?
Concordo plenamente que essa é uma tendência. O tráfego que tivemos de gerenciar na Olimpíada de Londres foi sete vezes maior do que o dos Jogos Olímpicos de Beijing. Não tenho esse número para a Copa do Mundo mas certamente a tendência continua com o incremento de usuários de smartphones, com a transmissão em HDTV (televisão de alta definição) e, inclusive, em 4K. Isso só aumenta o tráfego de dados que tem de ser gerenciado e transmitido na nossa rede pelo mundo.
Quais os desafios para os países que pretendem (ou vão) sediar este tipo de evento?
Os desafios, eu quebraria em três grandes pilares. O primeiro é entregar tudo a tempo porque não há como mudar a data de início das Olimpíadas ou da Copa, então é importante planejar e testar com muita antecedência, para que tudo esteja pronto no dia. A entrega é o principal desafio. O segundo é que a ação precisa ser suficientemente resiliente para que não haja falhas. Imagine se você tem uma falha de dez segundos durante a corrida dos cem metros rasos. Não sobra nada para contar a história. A resiliência das soluções de telecomunicações, e da tecnologia de maneira geral, tem de ser enorme para que não haja falha durante os momentos críticos de transmissão. E o terceiro pilar do desafio é a gestão de picos de demanda. Todo mundo na BT começou a suar frio quando viu os flashes espoucando no estádio, durante a cerimônia de abertura das Olimpíadas de Londres, porque obviamente hoje em dia a grande maioria das pessoas tira fotos e faz imediatamente o upload para a internet via wi-fi ou pelo 3G ou 4G do celular, que acaba na nossa infraestrutura, principalmente no Reino Unido, onde somos a incumbent, [a operadora original].
Qual foi o pico de tráfego de dados durante a última edição dos Jogos Olímpicos?
O pico de tráfego na nossa rede durante as olimpíadas foi de 6,7 gigabits por segundo (gbps), o que é uma enormidade. Mas a rede estava planejada para comportar 60 gbps.
Com o crescimento econômico fraco nos Estados Unidos e principalmente na Europa, os mercados emergentes vão continuar a atrair investimentos na área de telecomunicações e TI?
Na verdade, isso é só a continuação de um processo relativamente antigo. A divisão em que eu trabalho, que é a de Global Services (Serviços Globais), atua no mundo inteiro. Temos presença, com funcionários, em mais de 40 países, e atendemos clientes em mais de 170 países. E nós temos um programa de investimentos, que começou há quatro anos, em mercados emergentes. Começamos com a Ásia. Depois passamos para a América Latina e, depois, para a África. E esses programas estão em andamento até hoje. Na verdade, eu diria que o que está mudando é a cobrança nos resultados financeiros desses programas de investimento. O investimento vai continuar. O crescimento que a gente vê no mercado de ICT (sigla em inglês para Tecnologia da Informação e Comunicações) nessas regiões emergentes é muito mais atrativo do que na Europa. Na América Latina, especificamente no Brasil, a previsão de crescimento para este mercado de ICT nos próximos três anos é em torno de 5%, 5,5% ao ano. E, em alguns outros mercados da América Latina, chega a dois dígitos : 10%, 11%.
Você falou sobre uma cobrança maior por resultados…
Não só continuar crescendo a receita, como vem acontecendo nos últimos três, quatro anos, mas também gerando caixa para a empresa. O percentual que a América Latina e o Brasil representam na receita total da BT vem aumentando ano a ano. O crescimento da nossa receita na América Latina tem sido em torno de 15% ao ano nos últimos quatro anos. Nesse período, de 2010 para cá, praticamente dobramos a nossa receita e, consequentemente, a participação da América Latina na receita total da BT, uma vez que o crescimento que vemos no nosso mercado principal, que é a Europa, tem sido fraco nos últimos anos. E quase metade do nosso negócio na América Latina vem do Brasil.
Cada vez mais vemos empresas de telecomunicações enveredarem pelo segmento de TI. Quais os segmentos que a BT considera mais estratégicos para os próximos anos?
Nós, e o mercado de maneira geral, vamos continuar com uma dependência muito grande em relação à conectividade e à telefonia, que é o nosso carro-chefe. A maior parte da receita da empresa vem dessas duas áreas. Mas, cada vez mais, a gente desenvolve produtos de valor agregado em torno da conectividade. As principais áreas em que estamos investindo são: computação na nuvem, na qual temos produtos prontos em várias praças, inclusive no Brasil; a área de segurança, na verdade eu deveria ter incluído a segurança como um desafio das Olimpíadas. A terceira é a área de colaboração, que é uma expansão da solução de telefonia, passar a voz pura para um telefone IP (Internet Protocol) e associar isto a serviços de instant messaging (mensagens instantâneas), teleconferência, audioconferência. E a quarta área é a de serviços profissionais, porque é natural que haja demanda no mercado para as pessoas que têm esse tipo de conhecimento e estão na nossa empresa. Uma das coisas que a gente faz muito na área de serviços profissionais é a gestão dos serviços de telecomunicações. É um serviço bastante comum e atraente para as empresas porque elas querem se livrar deste problema.
Vocês atendem operadoras móveis virtuais (empresas de telecomunicações que usam a rede de outras para prestar serviços)?
Isso a gente faz no Reino Unido, porque lá temos a infraestrutura, a última milha, o backbone todo. Fora do Reino Unido nós não fazemos. Aqui, na América Latina oferecemos uma solução de satélite para as operadoras celulares. Temos uma oferta muito forte de satélite na América Latina, em função de uma aquisição que fizemos, e nós alavancamos essa tecnologia. Como a América Latina, de uma forma geral, tem uma infraestrutura muito pobre, o satélite nos permite chegar em algumas áreas onde mesmo as operadoras não têm como alcançar. Temos em torno de 30 mil sites conectados por satélite. A maior parte vem das lotéricas da Caixa Econômica Federal (CEF), que são quase todas servidas pela nossa conectividade.
No Brasil, ainda há espaço para consolidação no mercado de telecomunicações?
Nós já passamos pela fase principal das consolidações. Se você olhar só o mercado de telecomunicações, acho que já passamos pela fase principal, mesmo no Brasil. Temos hoje quatro players principais aqui. O que eu acho que vai continuar acontecer é a sobreposição de mercados. Empresas de infraestrutura, como por exemplo a Hughes, que fabrica equipamentos de satélite e sempre foi nossa fornecedora, agora estão competindo de igual para igual com a gente, prestando serviços via satélite. Por outro lado, companhias que sempre prestaram só serviços, como a IBM e a Accenture, começam a entrar na área de gestão de rede. Nesse sentido, pode ha ver algumas consolidações, no caso de uma empresa querer se tornar verticalmente integrada.
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