As famílias que compõem a nova classe C na maioria dos países dos Brics — Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — têm em comum o fato de virem de origem mais pobre, mas hoje possuírem um padrão de vida que lhes permite o consumo de bens aos quais não tinham acesso no passado, bem como a aspiração de um nível educacional melhor para as gerações atuais. Essa é uma das conclusões de uma série documental que acaba de estreiar na TV brasileira, “Brics – A nova classe média”, realizada pela produtora Cine Group. O primeiro dos cinco capítulos foi ao ar ontem, na Band News, e a série completa será reprisada no sábado.
Segundo o diretor do seriado Carlos Alberto Júnior, que dirige o programa ao lado de Julia Martins, a única família que destoa desse perfil é a russa, os Fedorovski, que moram no subúrbio de Voronezh, a 500 km da capital russa, Moscou. “Com o fim da União Soviética, houve o empobrecimento de famílias de servidores públicos que perderam seus postos com as privatizações. Agora, há uma tentativa desses profissionais de se inserirem no mercado privado de trabalho e os que conseguem adquirem carro, computador e eletrodomésticos, fazendo dívidas, assim como ocorre no Brasil e nos demais emergentes dos Brics. Mas não há uma ambição de melhoria mais consistente do nível de vida a partir da educação”, descreveu Carlos Alberto.
Nos demais países dos Brics, ao contrário, a educação é a prioridade da classe C. A família sul-africana Radebe, de Soweto, morava numa favela até Nelson Mandela tornar-se presidente do país. Com o fim do apartheid, não apenas tiveram início programas sociais de habitação como tornou-se possível aos negros ingressarem em instituições de nível superior. A nova geração dos Radebe reflete essa maior escolaridade e aspira uma formação universitária.
Outro fenômeno, a migração do campo para as cidades, levou os chineses a também almejarem uma melhor formação educacional. Na família Chang, que mora na periferia de Xangai, são os avós que criam os netos para que os filhos possam trabalhar mais e assegurar um ensino particular de qualidade para as crianças.
Na família indiana Vishwakarma, de Pune (estado de Maharashtra), o investimento em educação também é visto como importante, mas a aquisição de bens de consumo também é uma marca. “É uma sociedade com possibilidade de ascensão mas há um consumismo. Durante as gravações, até mesmo eles se surpreenderam ao perceber que havia 10 aparelhos de CD na casa”, afirmou o diretor da série.
A realidade da família brasileira Perandin Ribeiro não é diferente. Moradores do Jardim Raposo Tavares, na Grande São Paulo, eles saíram da pobreza e hoje possuem carro, estão construindo uma casa e têm os filhos na escola. “Queríamos saber como vivem as pessoas que ascenderam à classe média em outros países. Nós perguntávamos: ‘Será que a realidade delas é parecida com a da nova classe C brasileira?’ Por isso, acompanhamos uma família de cada um dos países dos Brics durante uma semana”, relatou Carlos Alberto.
As famílias que protagonizam a série foram selecionadas a partir do critério estabelecido pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), pelo qual a nova classe C é composta por grupos com renda familiar equivalente a entre R$ 3 mil e R$ 5 mil. Cada família entrevistada é foco de um dos episódios da série e tem retratadas as suas expectativas acerca de temas como saúde, educação, dificuldades enfrentadas e visão política. Especialistas de várias áreas, como sociólogos, filósofos e cientistas políticos também foram entrevistados, para analisar as distintas e também semelhantes realidades dessa classe média em cada um dos Brics.
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