Crédito ‘alternativo’ ocupa espaço de banco

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São Paulo – O apetite existe, e agora há espaço também. Cooperativas, factorings e consórcios estão aproveitando o esgotamento da capacidade de endividamento das famílias, que estariam sem condições de tomar novos empréstimos pelos critérios utilizados pelos bancos do Sistema Financeiro Nacional (SFN), pelo recuo estratégico dos bancos convencionais, que estão mais seletivos e menos interessados em ofertar crédito ao consumo. As três modalidades tem crescido o dobro do registrado pelo saldo dos empréstimos bancários. Adicionalmente, empresas de um universo totalmente fora do sistema financeiro convencional já se preparam para oferecer crédito em cartões pré-pagos, por exemplo. E, em breve, gigantes da tecnologia, como Google, podem replicar aqui os modelos de sucesso que já mantém lá fora, oferecendo crédito também.

Para Boanerges Ramos Freire, presidente da Boanerges & Cia. Consultoria em Varejo Financeiro, são esses novos entrantes que representam ameaça real de concorrência ao sistema bancário convencional. Apesar do crescimento maior dos consórcios, cooperativas de crédito e factorings, o especialista lembra que todas essas modalidades movimentam volumes muito pequenos frente ao crédito bancário.

Para o consultor, a retração da demanda por crédito bancário é natural, depois do ‘boom’ verificado até dois anos atrás. Somente entre agosto de 2007 e agosto último, o saldo do crédito total, considerando recursos livres e direcionados, para pessoas físicas e empresas, cresceu 151%. Neste ano, até agosto (último dado disponível no Banco Central) o saldo estava em R$ 2,86 trilhões, 5,5% mais do que em dezembro e 11,1% mais do que em agosto de 2013.

Já as empresas de factoring (que compram faturamento de pequenas e médias empresas) movimentaram em 2013 R$ 110 bilhões – e esperam crescer 20% em 2014. Os consórcios, por sua vez, tinham em dezembro último R$ 142,5 bilhões em ativos, 16% mais do que em 2012. Já as cooperativas de crédito crescem 22% ao ano desde 2008, mas em junho último tinham apenas R$ 80 bilhões em ativos. 

Freire diz que embora os bancos de forma geral estejam tentando acreditar que esses novos “players” tecnológicos não são uma ameaça, é impossível não levar a sério as movimentações de gigantes como Google, Amazon, Facebook, Apple, o chinês Ali Baba e PayPal -que se deram muito bem nas suas áreas de origem e tem “tradição” em romper paradigmas. “Agora, eles acreditam que podem se dar bem no mercado financeiro. A Amazon Capital Services, por exemplo, lançou há dois anos seu programa de crédito, batizado de AmazonLending — que empresta dinheiro aos vendedores que anunciam no seu site.

“As mudanças não vão acontecer da noite para o dia e não vão acabar com a hegemonia dos bancos de uma vez. Mas eles precisam se preparar pois não continuarão reinando sozinhos por muito tempo mais”, diz Freire.

Há, ainda, empresas de meios de pagamento que emitem pré-pagos ou atuam como facilitadores de pagamento que, embora menores, tem se multiplicado e da mesma forma, podem ameaçar a primazia das instituições financeiras convencionais — inclusive na concessão de crédito. Já existem algumas alternativas em estudo — e não só em crédito mas também em seguros, como adiantou Marcos Etchegoyen, presidente da Zuum, empresa de cartões pré-pagos formada em parceria entre a operadora Vivo e a MasterCard.

O BC está disposto a estimular essas alternativas, tanto que regulou o segmento de meios de pagamento no final do ano passado e, mais recentemente, esteve reunido também com cooperativas em Brasília para discutir incentivos. O estímulo do BC a instituições não bancárias é um esforço evidente para a bancarização maior da população, oferta em locais e meios ainda não alcançados pelos bancos convencionais e, principalmente, pela redução do custo. “Como as cooperativas não tem objetivo de lucro, podem cobrar taxas mais baixas. Em crédito e planos de previdência, somos imbatíveis”, diz Leo Trombka, presidente da Unicred.

Além das pessoas físicas, também as pequenas empresas sofreram com o recuo na oferta dos bancos neste ano. “Somos uma alternativa para as pequenas e médias empresas que têm como clientes grandes empresas mas que não têm balanços e contabilidade tão organizados quanto os bancos exigem”, diz Luiz Lemos Leite, presidente da Associação Nacional de Fomento Comercial (Anfac).

Paulo Roberto Rossi, presidente da Abac (que reúne as empresas de consórcio), também vê na maior seletividade dos bancos uma oportunidade para o setor — mas só quando o consumidor não precisa do bem logo, diz. Com Alessandra Taraborelli

 

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