Falta de dados custa R$ 15,3 bilhões à área de saúde

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Pelo menos US$ 5 bilhões (R$ 15,3 bilhões) em custos relacionados ao tratamento de pacientes poderiam ser reduzidos no Brasil se os profissionais de saúde tivessem acesso a informações mais detalhadas, inclusive ao histórico médico, das pessoas atendidas. A estimativa, da Accenture, quantifica uma das lacunas identificadas num levantamento recente feito pela consultoria com médicos de seis países. No Brasil, pouco mais de um quarto dos médicos costuma acessar os dados clínicos de pacientes que foram atendidos por outras organizações de saúde. O baixo nível de integração digital entre diferentes médicos, hospitais e planos de saúde é uma das principais razões para os custos gerados pela falta de informação adequada ao longo do tratamento. 

Em relação a dois anos atrás, 70% dos 504 médicos brasileiros entrevistados se disseram mais preparados para o uso do prontuário eletrônico. De acordo com a pesquisa, 61% utilizam regularmente aplicativo para lançar informações sobre o paciente, contra 85% nos Estados Unidos e 95% na Espanha. Embora todo o setor de saúde esteja se digitalizando, a integração entre os elos da cadeia de serviços ainda são fracos quando se trata de disponibilizar informações do paciente que poderiam ser úteis no tratamento. “Nos Estados Unidos, 65% dos resultados clínicos estão disponíveis no sistema, enquanto este percentual no Brasil está em 27%”, compara Rene Parente, líder da área de Saúde da Accenture para a América Latina. “Isso significa que para cada quatro pacientes que entram num consultório no Brasil, em três o médico começa do zero o tratamento”. Com base em outro estudo (“Avoidable Costs in U.S. Healthcare”, do IMS Institute for Healthcare Informatics), Parente projeta que 2,5% dos custos de tratamento dos pacientes poderiam ser evitados, o que no Brasil equivale a US$ 5 bilhões (R$ 15,3 bilhões). 

“Para um país com vasta extensão territorial, como o Brasil, mais fácil do que as organizações se comunicarem entre si, é ter acesso à informação num sistema centralizado”, diz Tiago Delgado, sócio da Medicina Direta, empresa voltada para a digitalização de dados no setor. Apesar de o Brasil ainda engatinhar nesse campo, Delgado explica que o país segue o modelo canadense, em que as informações de todos os pacientes estarão estocadas em hubs de armazenamento (data centers conectados entre si), podendo ser baixadas por diferentes médicos e instituições. O ponto de partida foi a definição de um padrão (o HL7) a ser adotado no Brasil para o tráfego de informação digital de saúde, o que permitiria a integração entre instituições de saúde e, futuramente, a criação de hubs. “Esse é o primeiro estágio do intercâmbio de informações: adotar uma linguagem comum”, afirma o sócio da Medicina Direta. 

Para os profissionais de saúde brasileiros ouvidos pela Accenture, o uso do prontuário eletrônico colabora para a satisfação do paciente (87% dos médicos destacaram esse aspecto positivo). As ferramentas digitais também contribuem — segundo 83% dos respondentes — para o engajamento do paciente no tratamento. “Quem conhece mais, se engaja mais”, justifica Parente, da Accenture, referindo-se ao fato de a digitalização tornar os dados clínicos mais acessíveis.

Mesmo com esses ganhos, a adoção de ferramentas digitais está longe de ser um caminho sem “solavancos”: 45% dos médicos brasileiros entrevistados se queixaram da dificuldade em usar os sistemas de prontuário eletrônico adotados por suas organizações. “Estamos vivendo uma revolução da usabilidade. A tendência é de que o médico faça uma comparação com os aplicativos que já usa normalmente no celular, por exemplo. Comparados às redes sociais e a outros aplicativos, em que tudo se resolve com um ou dois cliques, os prontuários eletrônicos ainda precisam melhorar”, avalia Parente.

Um dos efeitos colaterais da tecnologia mais destacados pelos respondentes brasileiros foi o afastamento entre médicos e pacientes: seis em cada dez profissionais disseram que o uso da tecnologia da informação na saúde diminuiu o tempo de contato direto. Para elaborar a Pesquisa Médicos 2015, a Accenture ouviu 2.619 profissionais espalhados por Brasil, Estados Unidos, Austrália, Cingapura, Inglaterra e Noruega. Este foi o primeiro ano em que o estudo incluiu médicos brasileiros.

 

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