Brasil entra na rota do cibercrime global

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Com o desenvolvimento econômico observado nos últimos anos, o interesse crescente pelos chamados mercados emergentes não está restrito às multinacionais. Sob a mesma ótica tradicional do mundo dos negócios, países como o Brasil e seus vizinhos na América Latina estão cada vez mais ganhando relevância no mapa estratégico de um outro segmento: o cibercrime. E é justamente nesse cenário — mais especificamente na ponta dos consumidores — que a Kaspersky Lab, companhia russa de segurança da informação, vislumbra uma importante via de crescimento para os próximos anos.

“Os mercados emergentes têm muito potencial para a companhia, especialmente na América Latina, onde cada país tem suas peculiaridades”, diz Peter Aleshkin, gerente de Marketing para consumidores dos mercados emergentes da Kaspersky Lab. “Como são os países mais desenvolvidos da região, Brasil e México são os alvos mais visados pelos hackers. Por isso, nossa ideia é reforçar nossas estratégias nessas operações.” 

Segundo os executivos, esse contexto e a maior exposição do país em virtude de eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada vêm fortalecendo outras tendências. A primeira delas é a a troca de conhecimento. Como os hackers de cada país acabam se especializando em algum tipo de ameaça, essa capacidade vira uma moeda de troca com seus pares no estrangeiro. “Os hackers brasileiros, por exemplo, estão exportando suas competências em malwares financeiros”, diz Martinelli. Esse é o caso de uma ameaça recente que altera os códigos de boletos para transferir valores a uma conta diferente. Criado por brasileiros, o ataque já tem suas ramificações na América Latina, além de Portugal e Espanha.A combinação de alguns fatores explica o maior interesse em países como o Brasil. Nos últimos anos, o país assistiu a uma explosão de consumo de dispositivos com acesso à internet. Muitos dos usuários tiveram o seu primeiro contato com a web, com toda a carga de desconhecimento sobre os riscos envolvidos. Como um reflexo direto, o mercado brasileiro já possui um volume considerável de transações financeiras no ambiente digital. “Ao mesmo tempo, existem grandes desafios do governo para combater os hackers”, diz Claudio Martinelli, diretor-geral da Kaspersky Lab no Brasil. “É uma luta desproporcional. Enquanto as polícias de cada país têm que seguir protocolos burocráticos de cooperação, o cibercrime não tem fronteiras. Quando alguma prisão acontece, as ameaças já atingiram muitos alvos”, observa. 

“Temos visto um aumento das relações de compra e venda entre hackers brasileiros e cibercriminosos do Leste Europeu”, diz Aleshkin. Nas relações desse mercado negro, o Brasil também vem se destacando em outras pontas. Um passaporte brasileiro clonado, por exemplo, chega a ser vendido por € 5 mil. “Eles são muito valiosos, pela diversidade de padrões. Qualquer um pode se passar por brasileiro”, explica Martinelli.

As mudanças não estão restritas às relações de compra e venda de códigos maliciosos. Esse intercâmbio também está trazendo reflexos na ponta da efetivação dos ataques. Até pouco tempo, por exemplo, as ameaças no Brasil eram desenvolvidas, em sua maioria, por hackers locais. “O Brasil está atraindo hackers internacionais. Como o crime é extremamente organizado, nada impede que existam máfias estrangeiras atuando em conjunto com os cibercriminosos brasileiros”, diz Martinelli.

Diante dessas movimentações, um dos nortes da estratégia da Kaspersky é reforçar no Brasil o modelo de parcerias que já desenvolve no exterior com agências governamentais com Interpol e Scotland Yard. A empresa colabora com suas tecnologias em processos de investigação e mesmo na descoberta de ameaças voltadas aos consumidores. No país, a companhia russa já mantém aproximação com órgãos como a Polícia Federal, a Polícia Civil e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Em termos de ofertas para os consumidores, a Kaspersky Lab está lançando nesta semana a versão de 2015 de seus pacotes de proteção. “Uma das apostas nessa frente é a oferta de proteção para multidispositivos, desde PCs e notebooks, até celulares e tablets”, afirma Aleshkin. O modelo depende da necessidade do consumidor. Uma licença pode cobrir um, três, cinco ou dez dispositivos.

A estratégia envolve também o reforço da estratégia de oferecer múltiplos canais e opções de compra do produto para os consumidores. Essa abordagem inclui o varejo físico, a venda por canais, a entrega na nuvem e a compra da mídia física, entre outros recursos.

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