Vinícolas fecham parceria com condomínios de luxo no Sul

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Principal polo vinícola do país, o Vale dos Vinhedos — no Rio Grande do Sul — está se reinventando a partir do lançamento de condomínios de luxo voltados para a produção de espumantes e vinhos personalizados. Duas empresas familiares tradicionais, Miolo e Geisse estão rentabilizando seus negócios por meio de acordos com empresas do ramo hoteleiro e de incorporação imobiliária, respectivamente.

Os chamados condomínios vitivinícolas são comuns no Chile e na Argentina, e também em regiões produtoras dos Estados Unidos, da França e de Portugal. Voltada para a produção de espumantes, a Geisse presta consultoria para o projeto imobiliário Terroir Vinhedos Exclusivos, com lançamento marcado para agosto. “Temos muita tecnologia e uma capacidade ociosa que é utilizada por terceiros. Essa capacidade é que vamos usar para produzir o espumante para os proprietários de lotes no condomínio”, explica Carlos Abarzua, diretor técnico da Vinícola Geisse.

Serão postos à venda 58 lotes de mil metros quadrados, numa faixa de terra entre os municípios gaúchos de Garibaldi e Bento Gonçalves. “Vamos contribuir com a nossa expertise para determinar o melhor local para plantio de vinhedos, as variedades de uva mais adequadas e a posição e quantidade de vinhedos por hectare”, exemplifica Abarzua. Além dos lotes, em que cada comprador poderá erguer sua casa, haverá uma infraestrutura comum que incluirá clube, cinema e biblioteca, entre outras comodidades. Cada proprietário terá direito a 600 garrafas por ano de um espumante com a sua própria marca, produzido num vinhedo de uso comum com 45 mil metros quadrados de área.

"Escolhemos o modelo argentino de condomínio vitivinícola. Até porque boa parte dos imóveis comprados em Mendoza (principal região produtora de vinho na Argentina) são adquiridos por brasileiros”, afirma Maurenio Stortti, diretor da consultoria M. Stortti, responsável pelo plano de negócios do empreendimento, desenvolvido pela Lex Empreendimentos Imobiliários.

Maior exportadora brasileira de vinho, a Miolo fechou parceria com o Spa do Vinho, complexo enoturístico instalado no Vale dos Vinhedos, como parte de um negócio que criou um pool de locação. O projeto — já em curso — busca atrair sócios-proprietários que têm direito a passar quatro semanas por ano no hotel e a produzir seu próprio vinho. A Miolo fica responsável pelos cuidados com o vinhedo e pelo processo de vinificação — cada sócio-proprietário tem direito a, no mínimo, dez caixas da bebida por ano. “Hoje, temos no Brasil cerca de dez projetos de condomínios vitivinícolas, em Santa Catarina, na Chapada da Diamantina e no Paraná, entre outras regiões”, diz a sócia-diretora Deborah Villas-Bôas Dadalt. O condomínio conta atualmente com 25 sócios-proprietários e, nesta segunda fase do projeto, serão abertas mais dez vagas, até chegar a um total de 60. Os confrades possuem, além de um lote de vinhedo, um apartamento ou suíte no hotel, que tem o selo Autograph Collection da bandeira Marriott International.

“No Brasil, a carga tributária elevada tira do mercado potencial muita gente que quer fazer seu próprio vinho. Os condomínios são uma forma de preencher esta lacuna”, argumenta Deborah. O Vale dos Vinhedos é a única região brasileira com certificação DOC (Denominação de Origem Controlada), designação atribuída a produtos produzidos em regiões geograficamente delimitadas, de acordo com determinadas regras.

Alta carga tributária e tempo de retorno desafiam produtores

O Rio Grande do Sul concentra aproximadamente 90% da produção vinícola brasileira. De acordo com o Instituto Brasileiro do Vinho (Ibravin), no primeiro semestre do ano passado — dado mais recente disponível — a comercialização de vinhos finos, de mesa e espumantes produzidos no Rio Grande do Sul teve incremento de 2,54%, totalizando 107,9 milhões de litros. Na avaliação do instituto, o resultado reflete uma estagnação nas vendas. Enquanto os vinhos de mesa apresentaram crescimento tímido (3,21%) no período, os finos e os espumantes amargaram retração nas vendas de -3,10% e -1,97%, respectivamente. Na avaliação setorial de 2013 divulgada pela Ibravin, o presidente do conselho deliberativo da entidade, Alceu Dalle Molle, atribuiu o desempenho negativo ao esfriamento da economia brasileira. “Se levarmos em conta a conjuntura econômica, não tivemos um desempenho ruim. Mas, o ano passado já não foi favorável, e tínhamos uma perspectiva de vendas melhores em função do acordo com o varejo”, avaliou o dirigente, no relatório. Uma das principais queixas dos produtores brasileiros é a alta carga tributária incidente sobre o setor. “No país, 52% do preço de uma garrafa de vinho vai para o bolso do governo, na forma de tributos”, queixa-se, Deborah Villas-Bôas Dadalt, do Spa do Vinho. “O retorno para uma vinícola no Brasil leva cerca de 20 anos.”

Uma das apostas das empresas instaladas no Vale dos Vinhedos é o enoturismo, que a cada ano atrai cerca de dois milhões visitantes para a região argentina de Mendoza. No projeto do Terroir Vinhedos Exclusivos está prevista a construção de um hotel-butique com 26 apartamentos. “Estamos conversando com duas bandeiras, uma nacional e outra internacional”, diz Maurenio Stortti. Só o licenciamento do projeto do condomínio junto à prefeitura de Garibaldi consumiu dois anos e meio, período em que foi realizada também uma pesquisa de mercado para formatar o produto imobiliário.

NÚMEROS

600:  É a quantidade de garrafas de espumante a que cada proprietário de lote terá direito no condomínio Terroir Vinhedos Exclusivos.

R$ 350 mil:  É o valor anual de uma cota no condomínio do Spa do Vinho. Já um lote de mil metros quadrados no Terroir Vinhedos Exclusivos custa R$ 450 mil.

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