Sul-africano chega ao Grêmio e diz que caso de Aranha ficará no passado

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O Grêmio firmou na noite da última terça-feira a contratação do jovem atacante Tyroane Sandows, de 19 anos. Ty, como é conhecido, é sul-africano e vive no Brasil desde 2007, ano em que passou a integrar as categorias de base do São Paulo. Tyroane é negro e nasceu em maio de 1995, nove meses após o fim do regime de segregação racial em seu país, que durou de 1948 até 1994. No Brasil, em 2014, há pouco menos de um mês, a Arena Grêmio – estádio em que Tyroane agora deverá jogar – foi palco do mais badalado episódio de injúria racial do futebol brasileiro, protagonizado pela gremista Patricia Moreira e sofrido pelo goleiro Aranha, do Santos. Ty não precisa ser questionado sobre o apartheid para relacioná-lo ao caso. Faz a associação espontaneamente.

"Obviamente, acho que não se pode julgar o Grêmio por isso. Não foi o clube que fez isso, foi um torcedor. Eu cheguei a ficar sabendo depois do jogo, não assisti. Obviamente, foi um comentário bastante infeliz. Acho que isso fica no passado. É o calor do jogo e as pessoas fazem esse tipo de coisa. Isso aí é passado para mim, aconteceu. Na África do Sul isso acabou em 1994 e hoje está conseguindo melhorar. A África do Sul conseguiu mostrar que esse tipo de coisa não existe. Não é porque você é negro ou branco que é melhor ou pior. Eu não cheguei a viver com isso, porque acabou em 1994, mas minha família viveu", contou Tyroane, ao UOL Esporte.  

Ty vive o sonho de se tornar jogador de futebol no Brasil, mas precisou se afastar da família para isso. Em 2006, um projeto social chamado Shona Khona levou 12 garotos sul-africanos para treinarem durante uma semana nas categorias de base do São Paulo, em Cotia. Tyroane foi convidado a voltar em 2007, para ficar um ano no clube. "Lógico que não foi fácil. Eles quiseram escutar de mim se eu queria ficar no Brasil, eu falei que sim. Eles me apoiaram, disseram que precisavam fazer um sacrifício em busca do meu sonho, e eu também precisei fazer um sacrifício", afirma o jovem, que tomou a decisão aos 11 anos e hoje fala português fluentemente.

O projeto social que levou Ty ao Brasil também encontrou uma nova família para acolher o jovem no Brasil: "Não chamo de pais, mas tenho uma família. Acharam esse casal, fiquei com eles porque ainda não podia ficar alojado em Cotia. Eles moram no Morumbi". Os pais ainda vivem na África do Sul e, quando consegue, vêm ao Brasil para visitar o filho, que pelo menos uma vez por ano viaja ao país onde nasceu. "Não preciso mandar dinheiro, eles têm uma vida mais do que tranquila lá", diz.

Tyroane foi integrado ao elenco sub-20 do Grêmio. O projeto do clube, que convenceu o jogador, vislumbra oportunidades na equipe principal, hoje treinada por Luiz Felipe Scolari. E foi exatamente a falta de chances com Muricy Ramalho que tirou Ty do São Paulo, após sete anos como titular de todas as categorias da base são-paulina. Em julho, sem acordo, não renovou com o clube e partiu para a Holanda para um período de testes no PSV Eindhoven.

"A proposta veio quando fui para a Holanda. Lá acabou não dando certo. Fiquei dez dias em observação, para ver se me adaptava. Eu acabei não me sentindo tão bem. Voltei e o Grêmio estava interessado. Me apresentaram um projeto bem legal, estão utilizando bastante meninos da base no profissional. É uma oportunidade de mostrar meu futebol", diz Tyroane, que não tem empresário.

Depois de tanto tempo no Brasil, Tyroane afirma que hoje sonha em defender a seleção brasileira nas categorias de base, mas admite que não recusaria a convocação da África do Sul – algo que, anteriormente, ele deixava de lado.

"Ainda estou com esse sonho, continuo pensando em, quem sabe um dia, defender as cores brasileiras. Mas se pintar um convite da África do Sul, também, eu não descarto. Vou falar com meus pais para decidir o que é melhor para mim", diz. 

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